Áudios divulgados pela Polícia Federal (PF) no domingo (23) revelam a discussão sobre a suposta trama golpista envolvendo militares no país após a eleição presidencial de 2022.
O material foi extraído de celulares e computadores apreendidos durante a investigação que resultou na denúncia de 34 pessoas por atos contra o Estado Democrático de Direito. A denúncia foi apresentada na última terça-feira (18) pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Entre os interlocutores identificados pela PF nos 97 arquivos estão:
- Mauro Cesar Barbosa Cid, tenente-coronel do Exército e ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL);
- Guilherme Marques de Almeida, tenente-coronel do Exército;
- Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, engenheiro e dono do Instituto Voto Legal;
- Mario Fernandes, general da reserva;
- Wladimir Matos Soares, agente da PF;
- Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, tenente-coronel do Exército;
- Bernardo Romão Corrêa Netto, coronel do Exército.
Com exceção de Bernardo Romão Corrêa Neto, todos os nomes acima foram denunciados pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.
Veja abaixo destaques dos áudios
- Mauro Cesar Barbosa Cid em conversa com interlocutor desconhecido: “A gente está recebendo cara de TI, hacker…você tem que ver o que ele já montou aqui. […] Se esse hacker mostrar quem foi, por onde entrou e como entrou, pronto. Tá ganho o jogo. Só que ninguém consegue mostrar isso, o cara mostra o número estatístico. Aí realmente, é suspeito. Muito suspeito. Só que e aí, como é que o cara mudou isso aí, quem mudou isso aí, como ele mudou isso aí, como ele entrou? Isso que eles não têm. Cara, é muita denúncia, não é pouca não. E aí é matemática, estatística, PHD, denúncias sigilosas, vai encontrar o cara num mercadinho, numa garagem e o cara passa um pen-drive, tem tudo cara. Mas ninguém ainda chegou com uma coisa que que consiga abrir uma investigação. É complicado cara, 99,9% das coisas até agora você consegue refutar. […] A gente tem cara infiltrado em todo lugar, monitorando e passando para a gente as informações, refutando ou ajudando a instigar, digamos assim.“
- Guilherme Marques de Almeida em conversa com interlocutor desconhecido: “Então, cara, é igual eleição americana, a eleição não vai voltar atrás, mas isso é o jogo dentro das quatro linhas que até agora o que a gente não apresentou foi o jogo fora. Eles jogam fora o tempo todo. Né? A começar pela liberação do Lula. Então, assim, os caras estão desde cedo armando várias coisas, né? O voto não auditável. Porra! Uma porrada de coisa né, cara? Então, assim, não preciso ficar aqui arcando pontualmente as coisas que eles fizeram. Cerceamento de liberdade, censura prévia, porra, prender jornalista, deputado, caralho, porra, inquérito de fake news, no caso assim, ilegalidades sobradas, né? Tudo isso fora das quatro linhas. Aí o cara, pô, o Exército fez alguma, pô, tá cometendo ilegalidades, as Forças Armadas. Porra, os cara tão fazendo desde o início. Então, esse que é o nosso mal, a gente não tá saindo das quatro linhas. Vai ter uma hora que a gente vai ter que sair ou então eles vão continuar dominando a gente. É isso, cara. Infelizmente é isso.”
- Carlos Cesar Moretzsohn Rocha em conversa com interlocutor desconhecido: “Para quem leu meu relatório lá no github, lá você percebe que eu vou diminuindo, aumentando o zoom. Começo no Brasil, vou nos estados, aí eu vou nos municípios mistos, ou seja, os municípios que têm urna velha e urna nova. Depois, eu vou nas zonas eleitorais mistas, que tem urna velha e urna nova e aí assim, e paro aí na zona. A conclusão em todos esses níveis de zoom é que o Lula ganha na urna velha de um jeito absurdamente improvável se a distribuição de urna for aleatória. Só que assim, eu descobri que tem mais informação lá que eu estava ignorando no dado original do TSE, que é a coluna NR local de votação, ou seja, a zona ela tem as escolas, né, e aí essa escola tem um número é o NR local de votação. Eu reconstruí a tabela, minha tabela urna local aqui com essa informação e aí eu fui ver se existem locais de votação mistos. Mais um nível de zoom, né? Ou seja, as escolas, mesmo que dentro da escola tem urna veha e urna nova. São 163 escolas no Brasil com essa configuração. Dentro dessas 163, o Lula ganha na urna velha em 84 delas, né? Ele ainda ganha, ainda é mais de 50%, né, mas é uma vantagem que não é absurdamente improvável. Na verdade, a probabilidade disso é 37% se a chance for 50/50, que seria o caso dessas duas coisas não estarem correlacionadas. Então, eu estou adiantando essa informação aqui antes de atualizar meu relatório para vocês já saberem de antemão, né, mas eu vou fazer mais alguns estudos e atualizar lá os bancos de dados para quem quiser baixar novamente e atualizar essa informação lá no relatório. Mas isso assim realmente enfraquece a crença de ter fraude e o TSE ter cometido o erro de misturar urnas honestas e urnas desonestas dentro do processo eleitoral. Ou seja, a explicação na hipótese de que as populações que votaram na urna velha e urna nova são diferentes parece que é o que realmente ocorre. São populações diferentes porque o TSE distribuiu as urnas de maneira “discriminatória” desse tipo né? Beleza?”
- Mario Fernandes em conversa com o general Luiz Eduardo Ramos: “Kid Preto, falei com o Renato. O decreto é real, foi despachado ontem com o presidente. É, [risos], movimento, eu tô de olho aqui. Se for o caso, eu aciono o senhor para voltar. Eu nem vou. Eu aciono o senhor para voltar. Força!”
- Mario Fernandes em conversa com Mauro Cid: “Cid, boa noite. Meu amigo, antes de mais nada, me desculpa estar te incomodando no dia de hoje, mas, porra, a gente não pode perder oportunidade. São duas coisas. A primeira: durante a conversa que eu tive com o presidente [Bolsonaro], ele citou que, pô, o dia 12, pela diplomação do vagabundo [Lula], não seria uma restrição, que qualquer ação nossa pode acontecer ate 31 de dezembro e tudo… Mas, pô, aí na hora eu disse: ‘Pô, presidente, mas o quanto antes… A gente já perdeu tantas oportunidades.’”
- Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros em conversa com Mauro Cid: “Meu amigo, tá um show de desinformação. Acabei de falar com o Cid, ele falou que não vai ter nada. Tá pronto, só que não vai assinar por conta disso que eu te falei, o Alto Comando está rachado e não quer encampar a ideia. Agora, se tem alguma coisa rolando e o Cid tá me operando, não sei, pode ser também. Mas ele falou que não vai ter nada, não vai rolar nada, e ele tá com o cara o tempo todo.”
- Bernardo Romão Corrêa Netto em conversa com Fabrício Moreira de Bastos, que atuava no Centro de Inteligência do Exército: “O que que está rolando aí, velho? Eu falei com o Cid hoje… Cid falou: ‘Pô, pode esquecer que não vai rolar nada, não’. Ele falou: ‘Ó, cara, pode esquecer, não deve… O decreto não vai sair. Presidente não vai fazer. Só faria se tivesse o apoio das Forças Armadas, porque ele está com medo de ser preso. Se acontecer alguma coisa vai ser preso e o caramba e tal. Não vai soltar nada, não’. Falei com ele agora de manhã. O quê que está acontecendo de novidade por aí?”
A CNN entrou em contato com a Marinha, o Exército e a Aeronáutica sobre os áudios obtidos e divulgados pela PF, e aguarda retorno.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Áudios revelam discussão sobre suposta trama golpista envolvendo militares no site CNN Brasil.