A família de Larya Rezende, 33 anos, conseguiu uma liminar na Justiça do Ceará para conseguir realizar a necrópsia no corpo da agente de viagens. Ela morreu após peregrinar em três unidades de saúde no Estado.
A turista do Distrito Federal estava de em Jericoacoara quando teve uma crise asmática e seu calvário teve início. Ela faleceu em 30 de dezembro de 2024. A morte foi dada como Covid, o que impossibilita o translado do corpo.
Os familiares de Larya, contudo, questionam a causa da morte, já que foi feito apenas um teste rápido na brasiliense sem passar realmente por um exame. A mãe de Larya entrou com uma ação no Tribunal de Justiça do Ceará que determinou a realização da necrópsia da moça.
Na decisão, o juiz de direito Marcelo Wolney Alencar Pereira de Matos, apontou que houve “uma série de erros, equívocos, lapsos e absurdos no atendimento de Larya em unidades de saúde na região de Jericoacoara (CE), inicialmente, se estendendo até Sobral (CE), que culminaram em sua morte da Larya, com a indicação em seu atestado de óbito da Covid-19”.
A família reclama ainda que não foi entregue o atestado de óbito e que a causa de morte por Covid é evasiva. “O vírus age levando à ocorrência de complicações cardiovasculares, estas sendo a causa da morte”.
A família de Larya tentou realizar a autópsia no corpo ainda no Instituto Médico Legal em Sobral (CE), mas foi negado aos familiares. Diante dessa negativa, o juiz entendeu ainda que o corpo deve ser encaminhado para o IML de Fortaleza para que a capital do estado faça o exame.
“É direito da autora descobrir, pelo meio mais seguro e da forma mais contemporânea, a causa concreta da morte de sua filha”, concluiu o magistrado.
Morte após peregrinar redes de saúde
Em crise asmática, Larya foi levada a um posto de saúde próximo a Jericoacoara, na Praia de Preá, em Cruz (CE). Segundo a família, no local não havia balão de oxigênio e foi informado de que ela teria de ser encaminhada a uma unidade de terapia intensiva (UTI).
Uma ambulância levava Larya do município de Cruz para o hospital de Sobral (CE). Contudo, no caminho a equipe médica teria sido informada da recusa da unidade hospitalar em receber a brasiliense. Larya, então, foi encaminhada às pressas a uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) em Sobral.
Segundo os familiares, o local não tinha a estrutura necessária para receber a paciente em crise, que demandava de uma UTI. Ela morreu poucas horas após chegar na unidade.
Após a morte, a equipe médica teria feito um teste de Covid na paciente, que teria apresentado resultado positivo à doença. Com o exame, os familiares não conseguem fazer o translado do corpo de volta para Brasília.
“Os protocolos para transporte são os mesmos na época da pandemia, que impede ser transportada por avião”, disse a irmã de Larya, Layara Rezende.
Os familiares questionam o resultado de Covid e pedem para fazer um novo exame. “Foi feito aquele teste rápido que poderia ter indicado que ela tinha os anticorpos e não necessariamente estava doente, até porque antes de viajar minha irmã fez o teste e deu negativo”, disse.
“Estamos há quase uma semana tentando fazer um novo teste para a gente conseguir levar minha irmã de volta para casa, receber o velório e poder ser sepultada perto dos entes queridos”, acrescentou.
“Perder um parente é muito difícil, mas nessa condição é horrível. Minha mãe ser tão humilhada para não conseguir enterrar a filha”, completou.
Os familiares contaram que o Instituto Médico Legal de Sobral não liberou nem mesmo o cadáver de Larya para que uma empresa contratada pela família fizesse a necrópsia do corpo alegando a causa da morte.
O Metrópoles questionou a prefeitura em Sobral, em Cruz e o Estado do Ceará sobre o caso de Larya Rezende. O órgão respondeu por meio de nota. Leia abaixo, na íntegra:
“A Prefeitura de Sobral, por meio da Secretaria da Saúde (SMS), se solidariza com o falecimento de uma paciente, turista que se encontrava na região de Jericoacoara e deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Sobral no dia 30 de dezembro, em estado grave. A SMS informa que todos os trâmites e protocolos médicos foram rigorosamente seguidos e que a equipe de saúde prestou toda a assistência necessária à paciente durante seu atendimento. A Prefeitura de Sobral está prestando todo o suporte necessário à família da paciente neste momento de dor, reafirmando seu compromisso com a assistência à saúde e o acolhimento humanizado”.
Ela deixou quatro filhos, sendo o mais velho de 17 anos e a mais nova com 9 anos.