A bancada evangélica, uma das maiores do Congresso Nacional, antecipou para terça-feira (25) a eleição do novo presidente do grupo. Com a frente parlamentar rachada, é a primeira vez que os congressistas vão recorrer ao voto para a escolha. Em anos anteriores, a definição foi por consenso, mesmo em cenários inicialmente de impasse.
O pleito foi antecipado em um dia para garantir o quórum de congressistas em um dia de votações presenciais. A proximidade com o feriado de Carnaval deve esvaziar o Legislativo. Os candidatos são os deputados Gilberto Nascimento (PSD-SP), Otoni de Paula (MDB-RJ) e Greyce Elias (Avante-MG).
Procurados pela CNN, os três afirmaram ter boas expectativas sobre a eleição.
Com 219 deputados e 26 senadores, o grupo vive um clima de polarização. Enquanto Nascimento tem perfil mais conservador, Otoni de Paula tem buscado diálogo com o governo – o que tem oposto alas da bancada. A deputada Greyce Elias corre por fora na disputa.
Otoni, no entanto, rejeitou estar alinhado ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas afirmou que se for eleito buscará diálogo com o Executivo. “É um erro você tentar transformar a frente num puxadinho do bolsonarismo ou em subserviente ao governo”, afirmou.
Para ele, a frente precisa “ser mais política sem perder a sua essência” e atuar semelhante à bancada do agronegócio que está em constante negociação com o governo, mesmo sendo formada em grande parte por deputados da oposição e de perfil conservador.
“Impuseram essa polarização lá dentro. Eles impuseram isso e me taxaram como sendo governo. E eu não sou do governo. Nunca fui do governo. Porém, eu tenho diálogo. Coisa que a frente vai passar a ter se eu for eleito. Diálogo político, a gente tem que ter”, declarou Otoni. Ele espera levar ao menos metade dos votos.
Às vésperas da eleição, os outros dois candidatos também atuam para reunir mais apoio. Segundo Gilberto Nascimento, a troca da data da eleição, antes prevista para quarta-feira (26), foi acordada entre os três postulantes. Após o pleito, na quarta-feira, o novo presidente deve conduzir o tradicional culto semestral de Santa Ceia.
“Está indo bem [a expectativa]. Todo mundo muito animado. Quando a gente liga para os colegas dizem: ‘Olha, é a primeira vez que vejo uma frente com eleição’. Mas isso, graças a Deus, é esse movimento de participação. Se pegar, por exemplo, todas as nossas reuniões, elas são bem frequentadas, então é realmente uma frente ativa”, declarou.
Não é a primeira vez que a frente vive um impasse na escolha do novo coordenador. Em 2023, o grupo quase recorreu ao voto para decidir se o comando da bancada ficaria com Eli Borges (PL-TO) ou Silas Câmara (Republicanos-AM). A solução encontrada foi um acordo para alternar o cargo entre os dois a cada seis meses, durante o período de dois anos.
Em suas propostas, Greyce Elias defende que a bancada “precisa ser mais forte e unida” para atuar pelos seus princípios no Congresso. Ela pretende, se eleita, fortalecer a articulação do grupo e ampliar a influência “nas comissões estratégicas e bancadas estaduais”. A deputada reuniu em um documento as suas propostas, que incluem “resgatar o trabalho pastoral” do grupo.
O eleitorado evangélico ganhou peso nos últimos anos e tem sido alvo de estratégias específicas durante as eleições. O governo Lula busca, inclusive, se aproximar do segmento, mas enfrenta resistência. No Congresso, o grupo se posiciona em prol de pautas conservadores, como a proibição do aborto, mesmo nos casos permitidos em lei.
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