Um avião da American Airlines com 64 pessoas a bordo caiu na noite da última quarta-feira (29) após se chocar com um helicóptero militar na região de Washington, nos Estados Unidos. Autoridades norte-americanas acreditam que não há sobreviventes.
Em setembro de 2006, uma colisão entre um Boeing 737 da Gol e um jato executivo provocou a morte de 154 pessoas , sendo 148 passageiros e seis tripulantes. Todas as vítimas fatais estavam no avião da Gol. Os ocupantes da outra aeronave ficaram ilesos.
Após ser atingido pelo jato executivo, o Boeing da Gol caiu em uma área de mata fechada localizada no município de Peixoto de Azevedo (MT). A cidade fica localizada a cerca de 675 quilômetros de Cuiabá e próximo à divisa entre Mato Grosso e Tocantins. Os destroços da aeronave foram encontrados no dia seguinte ao acidente.
Até 2007, esse foi o acidente aéreo com maior número de mortos no Brasil.
Relembre como foi o acidente da Gol
O Boeing 737 da Gol, prefixo PR-GTD, fazia o voo 1907, de Manaus ao Rio de Janeiro, com escala em Brasília. A decolagem ocorreu às 15h35 (pelo horário de Brasília).
O outro avião envolvido no acidente era um Legacy 600, fabricado pela brasileira Embraer. A aeronave decolou de São José dos Campos (SP) às 14h51 e iria para Fort Lauderdale, nos Estados Unidos.
As duas aeronaves colidiram às 16h56 –pouco mais de uma hora e 20 minutos após a decolagem do avião da Gol. A asa do Legacy atingiu a fuselagem e a asa esquerda do Boeing da Gol, que perdeu o controle.
“Logo após a colisão, o PR-GTD iniciou uma espiral descendente à esquerda, similar à atitude conhecida na aviação como “Parafuso”, sem condições de recuperação do controle por parte da sua tripulação”, diz o relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
O documento informa que, “durante a rápida descida, a aeronave foi submetida a forças aerodinâmicas extremas, em todos os seus eixos, com acelerações positivas e negativas, muito superiores aos limites máximos da resistência prevista em seu envelope operacional, tendo, como consequência, a ruptura estrutural em pleno vôo (Inflight Break-up) em diversos pedaços, que colidiram com o solo”.
As caixas pretas do Boeing da Gol gravaram dados por 53 segundos após o choque, mas, segundo o relatório, o tempo de queda foi estimado em um minuto e três segundos. Não foi possível precisar a altitude em que os aviões estavam no momento da batida.
“Pela rapidez da situação, os pilotos [da Gol] não perceberam que tinham sofrido um dano de tamanha monta na asa esquerda, mantiveram a calma tanto quanto possível e atuaram tentando recuperar a aeronave, até onde o CVR [gravador de voz da cabine] pôde registrar.”
O Legacy, apesar dos danos na asa, conseguiu seguir voando e pousou na Base Aérea do Cachimbo, no sul do Pará.
Conclusões do Cenipa
O relatório do Cenipa revela que, no Legacy, dois equipamentos que poderiam evitar a colisão estavam inoperantes: o TCAS e o transponder. No caso do avião da Gol, esses equipamentos estavam ativados.
TCAS é a sigla em inglês para Traffic Alert and Collision Avoidance System. Em português, quer dizer Sistema Anticolisão de Bordo.
Segundo o glossário da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o TCAS “mostra ao piloto de um avião a posição relativa de outra aeronave voando nas proximidades, sempre que estiver com o transponder em funcionamento. Em caso de ameaça de colisão, o sistema indicará, de forma visual e sonora, uma manobra de subida ou descida, necessária para evitar a colisão. Os sistemas dos aviões se comunicam de tal maneira que, se um avião receber ordem para subir, o outro receberá para descer ou manter o nível”.
O problema é que o avião do Legacy estava com o transponder inoperante. O transponder é um equipamento que emite ao sistema de controle de tráfego aéreo as informações sobre a localização da aeronave.
“A inoperância do Transponder e do TCAS do N600XL [Legacy] não permitiu que, apesar de estar operando normalmente, o sistema TCAS do PR-GTD [avião da Gol] detectasse e alertasse a tripulação para que pudessem evitar a colisão entre as aeronaves”.
Ainda segundo o Cenipa, o não-funcionamento do TCAS do Legacy também “não permitiu que os radares do Centro Amazônico alertassem os controladores sobre a iminente colisão por falta da informação de altimetria
O relatório informa que, apesar de o Legacy estar com o TCAS e o transponder desativados no momento do acidente, testes feitos “indicaram que eles estavam funcionando normalmente, sem que qualquer falha fosse detectada”.
“Nesse contexto, ocorreu o desligamento inadvertido do transponder, possivelmente devido à pouca experiência dos pilotos na aeronave e nos aviônicos, fato que não foi
percebido pela tripulação, tendo em vista o rebaixamento da consciência situacional e o alerta relativo ao não funcionamento do TCAS, o qual não chamou a atenção dos pilotos. A falta de consciência situacional também contribuiu para que a tripulação não percebesse que enfrentavam um problema de comunicação com o controle de tráfego aéreo. Embora estivessem mantendo o último nível de vôo autorizado pelo Centro Brasília, passaram quase uma hora voando em um nível não padrão para a proa mantida e não solicitaram qualquer confirmação do Centro”, diz o Cenipa.
No caso do Boeing da Gol, o Cenipa afirma que “não foram identificadas falhas ativas por parte da tripulação, nem falhas latentes no sistema organizacional da empresa”.
Condenação dos pilotos
Os pilotos do Legacy, Joseph Lepore e Jan Paul Paladino, foram condenado a três anos anos e um mês de prisão por atentado contra a segurança de transporte aéreo, em processo que transitou em julgado em 2015.
Em 2017, a Justiça Federal determinou a prisão dos dois, mas eles nunca chegaram a ficar na cadeia. Em 2023, o Brasil pediu aos Estados Unidos a extradição de Lepore e Paladino, mas o governo norte-americano negou.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Em 2006, avião da Gol se chocou com jato executivo durante voo; relembre no site CNN Brasil.