O Distrito Federal viu os crimes de estelionato relacionados a aluguel de imóveis explodirem nos últimos dois anos. De 2022 para 2023, por exemplo, as ocorrências desta natureza quase dobraram, indo de 383 para 706 registros. Em 2024, foram 514 denúncias de janeiro a outubro. Os dados são da Polícia Civil do DF (PCDF).
Plano Piloto e Águas Claras são as regiões administrativas que registram mais casos de estelionatos relacionados a imóveis. Para se ter ideia da recente disparada, o Plano Piloto teve 55 ocorrências registradas em 2022 e 99 em 2023. Em 2024, foram 84 ocorrências somente nos 10 primeiros meses.
Já Águas Claras foi de 38 casos em 2022 para 81 em 2023. Houve baixa em 2024, mas o número já é maior do que o do ano retrasado: 42 registros de janeiro a outubro. Em 2023, Ceilândia ultrapassou o Guará e alcançou o terceiro lugar.
Anúncio duplicado
O chamado golpe do falso aluguel tem várias vertentes, com criminosos duplicando anúncios reais ou negociando imóveis que não existem ou não estão à venda, por exemplo.
A empresária Beatriz Tôrres, 28 anos, por exemplo, caiu em uma fraude enquanto tentava alugar um apartamento no Guará. “Duplicaram o anúncio original da verdadeira dona do apartamento. Antes de eu procurar pelo imóvel, os suspeitos baixaram as fotos da casa, entraram em contato com ela, coletaram informações privilegiadas sobre quando haveria alguém ou não em casa e deram início ao golpe”, explica.
Interessada pelo apartamento, a jovem entrou em contato com o falso anunciante sem saber que trata-se de um anúncio falso. “Eram as mesmas fotos, informações, tudo perfeito. Jamais imaginaríamos que seria um golpe. Entramos em contato e fomos informados que poderíamos visitar o apartamento em horário determinado”, explica.
Os suspeitos pediram a Beatriz que adiantasse um caução. “Enviamos uma documentação e nos responderam dizendo que estávamos aptos a sermos os novos moradores do imóvel. Neste momento, pediram o valor do caução”, conta a empresária. O prejuízo foi de R$ 3,2 mil.
Ao chegar no prédio, então, a empresária percebeu que tratava-se de um golpe. “Encontramos a verdadeira anunciante, que ainda mora no apartamento, e nos demos conta do que estava acontecido”, lamenta.
A jovem registrou ocorrência na 4ª Delegacia de Polícia (Guará) e aguarda o desdobramento das investigações. Ela acredita que mais pessoas foram ludibriadas e perderam dinheiro. “Mais de 10 pessoas visitaram esse mesmo apartamento.”
Veja o gráfico com as RAs do DF:
Algumas regiões que aparecem mais abaixo no ranking chamam a atenção pela alta exorbitante. Santa Maria, por exemplo, teve quatro casos em 2022, mas, em 2023, foram 30 ocorrências, aumentando o índice em 650%.
São Sebastião também teve destaque negativo. A região teve apenas dois casos em 2022, mas viu o número subir 500% e chegar a 12 ocorrências em 2023.
A Cidade Estrutural não teve casos de crimes relacionados a estelionato envolvendo imóveis em 2022. No ano seguinte, a região estreou na lista, com três casos. Em 2024, foram quatro ocorrências registradas até outubro.
Anúncio (falso) de aluguel
A enfermeira Clara Stéfanne, 25 anos, caiu em um golpe após encontrar um anúncio na internet de um apartamento em Samambaia. “Negociei com um homem que se dizia dono do imóvel. De primeira, ele disse que era necessária um caução, e eu afirmei que não possuía condições de arcar com o valor. Depois, ele voltou, perguntando se eu ainda estava interessada.”
Segundo Clara, o golpista era “muito convincente”. Atraída pelo imóvel e pela oratória do indivíduo, a enfermeira pagou o valor pedido e marcou uma visita ao apartamento. “Chegando no prédio, dei o nome do rapaz ao porteiro, e ele respondeu que não morava ninguém com esse nome por lá”, relembra.
“Abri o WhatsApp e mostrei a foto do golpista ao porteiro, e ele me disse que já até havia imprimido aquela foto, porque outras vítimas já haviam sido enganadas da mesma forma”, comenta Clara.
Ela também registrou boletim de ocorrência junto à PCDF e aguarda o desdobramento das investigações.
Falta rigor e categorização
Para o corretor de imóveis Leonardo Guerra, o número de golpes sobe ao passo em que aumentam as transações imobiliárias feitas online. O que não cresce, para o especialista, é o rigor das autoridades e a regulamentação de plataformas digitais.
“A intensificação das investigações e a aplicação de punições mais severas são passos fundamentais para coibir golpistas”, avalia o corretor. “Também é crucial promover campanhas educativas que informem a população sobre como evitar esses golpes”, completa.
Guerra acredita ainda que uma central de denúncias específica para crimes digitais relacionados a imóveis reduziria ocorrências. “Treinar agentes para combater esse tipo de estelionato de forma mais eficaz.”
As plataformas de compra, venda e aluguel também têm responsabilidade quando acontece um golpe na visão do corretor. Para Guerra, é necessário “medidas mais rigorosas” contra golpistas.
“Elas podem implementar sistemas de verificação de identidade mais avançados, exigir comprovação de propriedade dos imóveis anunciados e monitorar atividades suspeitas. Além disso, é essencial disponibilizar um canal eficiente para denúncias e agir rapidamente para remover anúncios fraudulentos, protegendo os usuários.”