A morte do empresário Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, executado a tiros nesta tarde no Aeroporto Internacional de Guarulhos, revela mais um capítulo de uma trama do crime organizado com desvios milionários, mortes e um acerto de contas com o PCC.
Já conhecido das autoridades, Antônio havia sido preso em 2023 sob a suspeita de encomendar a morte de dois membros influentes na organização criminosa: Anselmo Becheli Santa Fausta, vulgo “Cara Preta” e Antônio Corona Neto, vulgo “Sem Sangue”.
Esse capítulo da história do crime organizado em São Paulo, no entanto, começou um pouco antes, em meados de 2018, quando o empresário — que trabalhava no ramo imobiliário e em operações de criptomoedas — conheceu “Cara Preta” e começou a realizar investimentos para ele.
Fontes ligadas às investigações revelam que foram feitas transações milionárias com o dinheiro de origem duvidosa. Com o tempo, porém, o membro da facção, que era responsável pela movimentação de valores milionários, passou a suspeitar de desfalques e iniciou uma escalada de cobranças, exigindo que Antônio “prestasse contas dos lucros obtidos”, segundo documentos da investigação.
Conforme as suspeitas se intensificaram, “Cara Preta” se convenceu de que estava sendo enganado e teria então exigido a devolução integral dos valores. Como não tinha como devolver, Antônio teria encomendado a morte do membro influente da organização criminosa.
Morte encomendada e revide
A polícia aponta Antônio Vinicius como o mandante do assassinato de “Cara Preta” e de seu motorista, Sem Sangue, em dezembro de 2022, na Vila Formosa, Zona Leste de São Paulo.
Na ocasião, o executor, identificado como Noé Alves Schaun, emparelhou seu veículo ao lado do carro das vítimas e efetuou disparos. Nove tiros acertaram “Cara Preta”, que morreu no local, enquanto outros dois tiros mataram “Sem Sangue”.
Pouco depois, em janeiro de 2022, a cabeça de Noé foi encontrada perto do local do crime, em um ato brutal de vingança do PCC. Na boca do cadáver, havia um bilhete com a mensagem: “Esse pilantra foi cobrado em cima da covardia que ele fez em cima de nossos irmão Anselmo e Sem Sangue.” Até então, Antônio Vinicius ainda não era oficialmente considerado o mandante do crime.
A investigação das mortes revela que Antônio Vinícius teria contratado uma pessoa para matar “Cara Preta” e que essa pessoa teria terceirizado a ação. Quando as suspeitas do mandante do crime foram reveladas, Antônio Vinicius teria sido jurado de morte pelo PCC.
Transação de milhões e ordem morte
Em fevereiro de 2022, Antônio foi preso preventivamente pela suspeita das mortes de “Cara Preta” e “Sem Sangue”. Em depoimento, ele alegou não saber que o dinheiro que movimentava pertencia a criminosos, dizendo que esses se apresentavam como jogadores de futebol.
Em depoimento, o empresário contou que depois das mortes, chegou a ser confrontado pelos supostos membros do PCC e que negou que teria encomendado as mortes. Ele relatou que chegou a ser ameaçado de esquartejamento na ocasião.
Antônio também relatou que, após das ameaças atribuídas ao PCC, entregou a um grupo de suspeitos uma carteira de criptomoedas com aproximadamente R$ 27 milhões, uma Ferrari e um pen drive com acesso a outra carteira digital, com cerca de R$ 100 milhões.
Após deixar a prisão em 2023, Antônio estaria negociando uma delação premiada que lhe permitiria sair do país. Esses planos, porém, foram interrompidos no Terminal II de Passageiros, em Guarulhos, às 16h10 desta tarde, em uma morte que parece fechar um ciclo de traição e vingança.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Assassinato de empresário no aeroporto revela traição e acerto de contas com o PCC no site CNN Brasil.