Início BRASÍLIA E SUAS CIDADES SATÉLITES Rio Melchior: empresa de tratamento é multada por não conter poluição

Rio Melchior: empresa de tratamento é multada por não conter poluição

A Hydros Soluções Ambientais Ltda foi multada em R$ 51.151,45 pela Secretaria do Meio Ambiente do Distrito Federal (Sema-DF) por despejar efluentes no Rio Melchior de forma irregular e em qualidade inadequada — sem o devido tratamento. A notificação foi publicada no Diário Oficial (DODF) desta quinta-feira (1/8).

Em 2020, o Serviço de Limpeza Urbana (SLU) assinou contrato regular com a Hydros, que ficou responsável pelo tratamento de chorume do Aterro Sanitário de Brasília (ASB) e da Usina de Tratamento Mecânico e Biológico (UTMB). A empresa já atuava com contrato emergencial desde agosto de 2019.

Conforme o regimento, a companhia deve entregar um relatório mensal para comprovar que o tratamento está dentro dos parâmetros de pureza exigidos pela Agência Reguladora de Águas (Adasa). Entretanto, um relatório do SLU constatou que, em 13 de janeiro de 2023, o efluente de chorume do ASB não foi tratado antes de despejado.

Mesmo após ter sido advertida para corrigir o problema, a empresa não tomou as medidas necessárias e por isso acabou multada. A Hydros Soluções Ambientais contestou a multa e o recurso foi analisado, mas a decisão final foi a de manter a multa superior a R$ 51 mil pela poluição do rio.

Procurada, a empresa Hydros disse que enviaria uma nota de explicação, o que não ocorreu até a última atualização desta reportagem.

População doente culpa poluição do Rio Melchior

O Rio Melchior é classificado como Classe IV no nível de poluição, o pior na graduação de alarme. A classificação proíbe o contato humano, pesca ou irrigação no local. O Metrópoles já entrou em contato com moradores próximos ao rio, que adoecem e culpam a poluição no Rio Melchior.

Em 2023, famílias do Setor Cerâmica, na VC 311, em Samambaia, relatavam febre, dor de cabeça, diarreia, e mal-estar — e sempre com a mesma suspeita, o rio sujo. Eles chegaram a afirmar que a estação de tratamento da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), o Aterro Sanitário de Brasília e despejos clandestinos de esgoto seriam os provocadores da poluição que assola as águas.

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Famílias que moram nos arredores do rio Melchior adoecem frequentemente

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Segundo moradores, as doenças seriam causadas pela poluição no rio

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Segundo eles, a poluição seria provocada por estações da Caesb, pelo Aterro Sanitário e por despejo clandestino de esgoto

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Dona Ana vive há décadas na região e se lembra de quando o rio era limpo

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“Meu filho já ficou 20 dias com dor de barriga. Quase morreu por causa da água”, conta Alfredo

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No passado, a população nadava no Rio Melchior. Hoje, evitam colocar os pés nas águas

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Além da sujeira nas margens, o Rio Melchior também apresenta um cheiro forte e desagradável

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As águas do rio vão para Corumbá IV

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Pesquisas alertam para a poluição no rio

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Segundo a comunidade, a região está esquecida e não estaria recebendo atenção e ações do governo

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Ativistas ambientais lutam pela recuperação e preservação do rio. Mas são ameaçados

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Dona Leuza busca água da igreja para poder beber e preparar alimentos

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Dona Leuza usa água de uma cisterna apenas para limpeza, irrigação e aos animais

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Famílias temem que a água recolhida em poços esteja sendo contaminada também

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A região não tem água encanada, esgoto e infraestrutura

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Dona Leuza já passou dias sem ter água para beber

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Dona Leuza tem a saúde frágil e enfrenta diversas doenças

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Crianças ficam doentes frequentemente na comunidade. As famílias suspeitam da água do rio

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Crianças ficam doentes frequentemente na comunidade. As famílias suspeitam da água do rio

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O deputado distrital Max Maciel acompanha a situação e cobra providências do GDF

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Dona Ana Lúcia Rodrigues dos Santos, 66 anos, mora nos arredores do Melchior desde os 7. “O rio era limpo. Você via o fundinho da água e os peixinhos, a pirapitinga”, lembrou. “Agora você não pode por os pés, tem que correr lavar e passar álcool. Agora, a maioria das crianças sofre com diarreia. Aí povo fala: é verme. Não é não, meu filho. É a água”, contou.

Já os moradores do acampamento Rosa Luxemburgo, às margens da BR-060, também acreditam que a água usada por eles é a principal causa de enfermidades que os atingem. A ocupação é abastecida, predominantemente, pelo córrego Samambaia, afluente do rio Melchior.

A água vinda do córrego é usada para lavar louças, consumo de animais e banho. Para a alimentação, os moradores preferem comprar galões de água mineral. “Aqui em casa são mais de R$ 200 por mês em água. Para cozinhar, é tudo comprado”, explica Juscilene da Costa, de 48 anos.

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Os moradores do acampamento Rosa Luxemburgo se queixam há meses de sintomas como irritação na pele, nas partes íntimas, dores de barriga e diarreia

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Eles afirmam ser contaminação da água do córrego Samambaia

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O córrego é a única fonte de água da comunidade

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“Aqui em casa são mais de R$ 200 por mês em água. Para cozinhar, é tudo comprado”, explica Juscilene da Costa

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Ela perdeu todos os peixes que criava por causa da água poluída

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Entrada da casa de “Aqui em casa são mais de R$ 200 por mês em água. Para cozinhar, é tudo comprado”, explica Juscilene da Costa

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Em outubro de 2023, ela e o marido tiveram um prejuízo de mais de R$ 600 ao usar a água do córrego para encher o tanque de peixes que cria. Logo após abrir o registro da água do córrego, Juscilene sentiu o cheiro característico de quando algo é descartado na afluente. Ela correu para fechar a mangueira que enchia o tanque, mas era tarde demais. Mais de 50 kg de peixe morreram. “A água fica podre, fedida e da cor de chorume.”

“Às vezes, a água nem fica escura. Mas a gente sente o cheiro. Vem um cheiro bem forte”, conta a presidente da Associação dos Pequenos Agricultores (ASPEAGRL) e fundadora do acampamento Rosa Luxemburgo, Petra Magalhães, de 47 anos.

Problema antigo

Em 2021, o ativista ambiental Newton Vieira acionou o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e as comissões de Defesa de Direitos Humanos e do Meio Ambiente da Câmara Legislativa do DF (CLDF) para apurar a situação do Rio Melchior, na altura da ponte da Vicinal 311 (VC-311). Na época, a Defesa Civil já havia classificado o local como área de emergência sanitária.

No mesmo ano, o Metrópoles esteve no local e constatou o mau cheiro, além de água turva, assoreamento e presença de espuma espessa na água. Morador da Antiga Cerâmica desde 1999, o aposentado Antônio Valença da Silva, 81 , conversou com a reportagem e disse que a situação piorou após a inauguração do ASB, situado nas proximidades.

“Aumentou o volume e o vazamento de chorume. A água ficou escura. Tem dias que a água está preta, cheia de espuma grossa e com cheiro forte”, contou Antônio.

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