Policiais militares acusados de integrar um esquema de exploração e favorecimento do transporte irregular no Distrito Federal foram excluídos da corporação. A decisão consta no Diário Oficial (DODF) desta segunda-feira (8/7).
Ricardo Wagner Borges Caland, Fernando Nonato da Silva e Valdemir Quirino dos Santos foram exonerados da Polícia Militar do DF, a bem da disciplina, diante de decisão que os considerou incapazes de permanecer na corporação, sem direito à manutenção de salário.
Segundo informações divulgadas pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) em 2018, o grupo cobrava propina de motoristas de transporte pirata nas regiões do Paranoá e Itapoã. Em contrapartida, deixavam de autuar os condutores e proprietários dos veículos irregulares.
Além dos três militares excluídos, outros dois policiais também eram investigados por fazerem parte do esquema. De acordo com diligências do MPDFT, o grupo faturava até R$ 30 mil por mês com a prática criminosa.
“Como forma de coagir os loteiros, a organização criminosa também reforçava a fiscalização em relação àqueles que não aderiam ao pagamento da propina, criando profundos embaraços à atividade, retendo documentos por tempo prolongado e aplicando diversos autos de infração de trânsito”, disse na ocasião o promotor do MPDFRT Nísio Tostes,
À época, o promotor detalhou ainda que as provas colhidas e as interceptações telefônicas feitas durante a investigação revelaram que, além dos policiais militares denunciados, o líder da organização criminosa, major Nelimar de Sousa, recrutou os civis: Luiz Marcos Rodrigues Saúde, Evandro Nascimento da Silva, Gilmar Braga Damasceno, Mário Pereira Neves, Mauro Edson Alves da Silva, Ronaldo Ferreira da Silva, além de Fábio e Lívio, identificados apenas pelo primeiro nome.
Eles agiam como intermediários junto aos “loteiros” para arrecadação de dinheiro e recebiam em torno de R$ 150 por semana, por veículo. Os que pagavam a propina circulavam livremente sem sofrer qualquer abordagem policial.
A reportagem não localizou as defesas dos citados. O espaço segue aberto.
“Piratas do Asfalto”
O envolvimento de policiais militares com o transporte pirata foi tema de uma matéria especial do Metrópoles. A reportagem apurou que, em 2015, o setor paralelo contava com mais de 10 mil veículos, que movimentavam R$ 3 milhões por dia.
O texto detalha que, com a ajuda dos PMs, os motoristas de transporte irregular tinham acesso às rotas de fiscalização assim que as ordens de serviço começavam a circular entre as equipes.
Denúncias feitas à reportagem por militares apontam o envolvimento de colegas. Um dos acusados, inclusive, receberia R$ 1 mil de cada veículo ilegal para garantir “proteção” ao avisar sobre barreiras policiais ou fazer “vista grossa”.