Verba bancou obras da Codevasf e cidade onde Benedito de Lira, pai do presidente da Câmara, é prefeito. Ofício foi enviado ao STF
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), indicou ao menos R$ 357,477 milhões em emendas parlamentares do orçamento secreto nos últimos dois anos. O montante representa quase 10 vezes mais o valor que cada deputado tem direito a destinar de emenda individual.
Presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), presidindo sessão da Casa Igo Estrela/Metrópoles
O levantamento foi feito pelo Metrópoles com base em ofícios enviados na noite dessa segunda-feira (9/5) pelo Senado Federal e Congresso Nacional ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Mais de 400 parlamentares repassaram informações sobre a destinação de verbas do orçamento secreto.
Em 2020 e 2021, foram empenhados R$ 36,455 bilhões desse dispositivo. Cerca de R$ 17,447 bilhões foram pagos, segundo dados do Siga Brasil.
“Meu apoio”
Em resposta ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), Lira enviou uma planilha com as emendas parlamentares RP9 que contaram com o que ele chamou de “meu apoio”.
Individualmente, Lira só teria direito a enviar cerca de R$ 18 milhões por ano.
Entre as indicações do orçamento secreto, R$ 93,880 milhões foram destinadas a ações da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), empresa tida como “a estatal do Centrão”, por ser dominada por indicações de políticos do bloco.
A Controladoria-Geral da União (CGU) chegou a apontar sobrepreço na compra de tratores e máquinas agrícolas pela Codevasf, com dinheiro do orçamento secreto. O esquema, revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo, ficou conhecido como “tratoraço”.
Além disso, R$ 6,041 milhões foram para Barra de São Miguel, cujo prefeito é Benedito de Lira (PP), ex-senador e pai de Arthur Lira.
Fundador da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco avalia que o “preço do apoio político está cada vez maior”. “Daí o valor de R$ 4,9 bilhões do fundo eleitoral e a cooptação de parlamentares para ampliação da base por meio dos R$ 16,5 bilhões das emendas de relator. O Centrão está com a caneta e a chave do cofre”, diz, em conversa com o Metrópoles.
“As emendas de relator distorcem as políticas públicas e comprometem o equilíbrio federativo, em função da falta de parâmetros técnicos para a sua distribuição”, acrescenta.
Entenda
O orçamento secreto, de emendas sem indicação de “padrinhos”, explodiu durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), com o objetivo de negociar apoio de políticos do Centrão.