As imagens falam por si. Mostram o desespero no rosto de alguém que estava destinado à morte e, segundos depois, leves toques de alívio na expressão do rapaz de 19 anos. A sequência de momentos, registrada pelo fotógrafo Epitácio Pessoa, foi a vencedora do Prêmio Esso de Fotografia, em 2011. Mais que ganhar o concurso, o profissional salvou a vida do jovem, que poderia ter sido morto se aquele momento não tivesse sido presenciado pelo fotógrafo.
Como os registros foram feitos
Em 16 de agosto de 2010, Epitácio empunhava sua câmera, como sempre, e seguia a caminho de mais uma pauta cotidiana, uma reportagem especial sobre o desassoreamento do rio Paraíba do Sul, em Lorena (SP), quando encontrou os três homens
“Naquela manhã, nós passamos por Aparecida e fomos até Lorena. Entramos em uma estradinha de terra com o carro do jornal. Eu ando sempre com a câmera em CD, que é condição de disparo. A princípio, vi os três rapazes ali e pensei que era uma brincadeira. Então, comecei a fotografar”, conta.
No entanto, o que parecia uma simples brincadeira se mostrou muito além disso. Ao avistar o carro da equipe, o rapaz, que na época tinha 19 anos, gritava por socorro. “Pedi para parar o carro na hora. Estavam a uns 100 metros. Ele veio correndo na minha direção, pedindo ajuda”, lembra Epitácio.
Naquele momento, o fotógrafo ainda não havia tomado total consciência do que havia acabado de fazer.
“Ele entrou no carro e me disse: ‘vocês salvaram a minha vida. Eles iam me matar, mas quando viram que você estava fotografando, fugiram’. Naquela hora, agradeci ao dom que Deus me deu. Nunca imaginei que uma foto pudesse salvar uma vida. Um clique salvou a vida daquele rapaz”, lembra.
A frase dita pelo jovem após o encontro ecoa na cabeça de Epitácio até hoje.
Uma vida salva. Um feito que Epitácio jamais imaginava conquistar um dia.
O jovem contou que havia sido confundido com um criminoso, que havia sido agredido e estava prestes a ser morto pelos homens. “Ele seria jogado no rio em que nós faríamos a reportagem”, afirma.
A força da fotografia
Foi ao ver as imagens que capturou com sua câmera que Epitácio se deu conta do que havia presenciado. “Estávamos sentados em um restaurante, e eu tremia quando vi o resultado das fotos. Não tem preço que pague salvar uma vida”, diz.
No dia seguinte, estava na capa do jornal “Estadão”, para o qual prestava serviço como freelancer. Estampado imponente logo na primeira página, com os dizeres “violência abortada”.
“Eu fiquei muito feliz e muito impressionado que o jornal resolveu colocar a foto na capa. A fotografia é honesta, não mente. Nós fotógrafos temos a mania de achar que a boa foto é aquela que vamos fazer amanhã, mas aquele momento foi Deus que escolheu. Eu estava ali”, afirma.
A sequência de imagens foi indicada ao Prêmio Esso de Fotografia. E venceu. Mas, para ele, o maior prêmio já havia sido entregue muito antes disso.
“Salvar a vida dele foi o grande prêmio para mim. Não tem preço que pague salvar uma vida.”
O reencontro
Um ano depois da foto, Epitácio voltou a Lorena. Ele se reencontrou com Adriano Carlos Gonçalves da Silva, o jovem de 19 anos com quem havia cruzado caminhos em 2010.
“Ele é filho de uma família religiosa e realmente é um bom rapaz. Ele foi confundido com um criminoso. Ele nos recebeu com um grande abraço e nos agradeceu muito”, lembra.
Atualmente, Epitácio não tem mais contato com Adriano. Ele tentou novamente alguns anos depois, mas não o encontrou. “Espero que esteja em algum lugar por aí realizando sonhos e construindo sua família”, afirma.
‘Sou feliz com o que faço’
Nascido em Taquarituba (SP), no interior de São Paulo, Epitácio sempre foi fascinado por fotografia. Depois de morar na capital paulista por um tempo, escolheu a cidade de Sorocaba para viver.
Trabalhou por mais de 20 anos como fotógrafo freelancer para grandes jornais impressos e, atualmente, possui uma agência e um estúdio fotográfico.
“Eu não trabalho, eu sou feliz com o que faço. Trabalho é limpar a casa, consertar uma parede. A fotografia me faz feliz, então não trato como um trabalho”, finaliza.
Fonte: G1.